Octávio Carmo, Agência ECCLESIA
A Quaresma, com que os católicos se preparam para celebrar a Páscoa, só aparentemente se apresenta como um tempo triste e pessimista. Mais do que o roxo ou as cinzas, estes 40 dias são marcados por desafios à mudança e ao descentramento, para o aprofundamento das dimensões da vida de cada um que muitas vezes são atropeladas pela correria do quotidiano e as falsas metas para as quais corremos sem cessar.
Compreendo que a proposta de “conversão” seja olhada com desconfiança por alguns. É uma palavra que dói, implica o reconhecimento de que algo não está bem, implica mudança e isso é algo a que, paradoxalmente, resistimos, apesar de acharmos quase sempre que este não é o lugar onde devíamos estar.
A conversão mais não é, em muitas situações, do que deixar de resistir. Largar tudo e confiar no que há de vir, com atenção a quem encontramos no caminho e os olhos postos numa meta definitiva, que transcende a nossa pequenez. Por isso mesmo, ainda hoje fazem tanto sentido as tradicionais práticas ligadas à Quaresma como forma de estimular o descentramento de si e o recentramento no Outro/outro.
Por decisão do Papa, o tempo de preparação para a Páscoa vai decorrer sob o signo do Jubileu da Misericórdia. Simbolicamente, os missionários deste ano santo extraordinário vão andar pelo mundo inteiro, em vez de ficarem à espera do mundo. Também aqui há uma coragem de mudança: partir sem saber quem é que nos vai deixar entrar, mas confiar que é possível chegar mais longe, mesmo assim.
Fonte: Ecclesia
http://agencia.ecclesia.pt/semanario/netimages/html/ecclesia_151_-_12_de_fevereiro_de_2016.html