“Quando afirmamos que, pela Páscoa, “passamos com Cristo deste mundo para o Pai”, o que queremos dizer? O que significa participar na morte e ressurreição de Cristo? São frases feitas cujo profundo sentido e vitais implicações concretas podem facilmente escapar-nos. Não se trata de nos deixarmos arrastar por uma demagogia fácil nem de ceder perante moralismos radicais.
A Páscoa da Igreja não deve ser deve diferente da de Cristo. Como Cristo, a Igreja também deve ansiar mais “padecer” a Páscoa do que “comê-la”. Está aqui latente a afirmação da primazia da Páscoa vivida, como compromisso e como entrega sacrificada, sobre a Páscoa celebrada. Ou, explicando melhor o meu pensamento, o que se pretende dizer é que a celebração cultual da Páscoa (= “comer a Páscoa) deve ser a expressão de uma Páscoa vivida no esforço permanente de uma comunidade cristã que opta por uma comunhão mais plena na dor dos homens que sofrem, dos marginalizados deste mundo, dos homens que lutam pela justiça, dos homens que sofrem de qualquer tipo de violência, etc. Essa é a grande porção da humanidade na qual a situação de “paixão” é mais dramática. A Páscoa da Igreja, como a de Cristo, deve ser uma comunhão na “paixão” da humanidade. Sê-lo-á na medida em que as comunidades cristãs, ou melhor, a nossa comunidade, encarnarem no mundo dos pobres e dos pequenos. Só assim a Igreja poderá ser germe de um mundo libertado e fermento de uma humanidade nova. Por isso, é preciso viver a Páscoa como um processo de transformação do mundo, tendo como meta a ressurreição de Jesus, sendo esta concebida como transformação radical da existência… da nossa existência!
Para todos os colaboradores do boletim Atear, e a todos o leitores uma Santa Páscoa.”
Hélder Gouveia