1. Celebramos hoje o aniversário da dedicação da Catedral de Lisboa, logo a seguir à reconquista cristã da cidade e da investidura do seu primeiro Bispo, nessa nova fase da história de Lisboa, que se prolongou até aos nossos dias. Não há Catedral sem Bispo, como não há Bispo sem Catedral. Ambos os gestos, dedicação da catedral e entronização do Bispo, significam a implantação de uma Igreja particular, na qual vive e se exprime toda a Igreja de Jesus Cristo, Una, Santa, Católica e Apostólica.

Não foi a primeira vez que existiu em Lisboa uma Igreja particular organizada. Desde Potâmio de Lisboa que conhecemos os nomes de alguns Bispos desta Igreja e se durante o período de domínio muçulmano as notícias são escassas, a crónica da conquista de Lisboa refere-nos a presença do Bispo, que aliás perdeu a vida na confusão da batalha. Somos, assim, uma Igreja com longa história, provada pelas vicissitudes das mudanças e dos acontecimentos, que soube resistir em situações adversas e que adaptou a sua missão e a sua forma de ser Igreja a cada tempo novo. As grandes mudanças históricas dão á Igreja essa dupla sensação: a da fidelidade a uma longa tradição e a de começar de novo, num tempo novo. É essa dupla atitude que é, hoje, pedida, à Igreja de Lisboa: fidelidade a uma longa história, que enraíza na era apostólica, o que lhe dá a firmeza e a segurança necessárias para pensar a sua missão na exigência e na complexidade do tempo que vivemos.

  1. A Catedral é, na Igreja particular, o símbolo vivo da sua apostolicidade e, consequentemente, da sua catolicidade. A Igreja de Cristo é um edifício espiritual, construído de pedras vivas, assentes “sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, que tem Cristo Jesus como pedra angular”. Só existe uma Igreja particular quando a ela preside o Bispo, sucessor dos Apóstolos, garantindo-lhe a plenitude dos meios da graça da salvação, a Palavra e os sacramentos. Na Catedral o Bispo tem a sua cátedra, de onde proclama o Evangelho e guia todo o Povo pela Palavra; aí o Bispo congrega o Povo para a Eucaristia, momento decisivo da construção da Igreja como Povo do Senhor, aquele que se reúne para adorar a Deus em espírito e verdade.

O Bispo conduz a Igreja pelos caminhos da salvação com a ajuda dos presbíteros, a quem fez participantes do sacerdócio apostólico. Eles ficam com poder e autoridade para congregarem o Povo em nome do Bispo, proclamarem a Palavra e celebrarem a Eucaristia. Em todos os templos e lugares onde, nesta Igreja, o Povo se reúne convocado por um presbítero em comunhão com o seu Bispo, está simbolicamente presente a Catedral, pois se esta é, na sua verdade profunda, o lugar da reunião, ela está presente onde o Povo se reúne, em nome do Senhor.

A Catedral torna-se, assim, o sinal visível dessa união misteriosa e invisível de uma Igreja unida em comunhão. Precisamos de valorizar pastoralmente esta união profunda entre a Catedral e a Igreja paroquial.  (…)

D José Policarpo – 25/10/04

Fonte: Ecclesia

http://www.agencia.ecclesia.pt/noticias/documentos/a-morada-de-deus-entre-os-homens/