Em comunicado divulgado na sequência da assembleia plenária de 27 de novembro de 1974, a Igreja católica em Portugal, pela voz dos seus bispos, relembrava, no seguimento de uma anterior Carta Pastoral, a necessidade de «todos se inscreverem a tempo e corretamente nos cadernos eleitorais, para depois votarem com toda a liberdade e consciência».
«A Igreja, ao mesmo tempo que apela para a afirmação política dos cristãos, respeitando as suas legítimas opções, procura assegurar a sua própria isenção política», apontavam os prelados, que reiteravam a oposição à integração de padres nas listas de partidos concorrentes às eleições de 25 de abril de 1975
«Ninguém, pois, se deve abster de votar. Isto supõe a obrigação de cada qual previamente se esclarecer sobre os partidos em confronto. Tal esclarecimento, porém, não implica necessariamente uma análise exaustiva dos programas, mas aquele conhecimento do que é e do que propõe cada partido, suficiente para fazer uma opção conscienciosa. Assim, ninguém deveria votar em branco», acrescentava o comunicado final da assembleia plenária.
Os bispos manifestavam a convicção de que «o bom senso da generalidade do povo português» conduziria à escolha, de «entre todos os partidos que prometem uma sociedade mais justa, livre e feliz, os que dão maiores garantias de seriedade, competência e sintonia com a maneira de ser dos portugueses, recusando, pelo contrário, aqueles que apontam para as vias do ódio e da violência ou da aventura utópica».
Segundo o episcopado, «o cristão deve acautelar especialmente os valores que mais diretamente se prendem com o seu destino temporal e eterno, como são a religião, a família, a educação, a dignidade do trabalho, a justa participação nos bens materiais e espirituais ao serviço da pessoa humana, e a liberdade frente a qualquer espécie de opressão, económica, ideológica ou política».
«O que está vedado aos católicos é dar o voto a partidos que, pelos seus princípios ideológicos, pelos objetivos e processos que preconizam, ou pela realização histórica para que tendem, se lhes afigurem incompatíveis com a concepção cristã do homem e da sua vida em sociedade», alertava o episcopado.

Fonte: Pastural da Cultura

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