É sempre difícil começar um novo trilho, sobretudo quando esse “começar” reflecte uma mudança de perspectiva, da passagem de mero consumidor de actividades, para a de organizador/responsável e ao mesmo tempo consumidor.
Se até aqui tínhamos oportunidade de viver o que nos proporcionavam e avaliar de modo crítico face ao que nos despertavam os sentidos (gosto, não gosto, há que melhorar isto ou aquilo), o grupo Pioneiro viu-se pela primeira vez no papel de autor e actor do seu guião, ou seja, tiveram de vestir a capa de organizadores da actividade.
E concluiu-se que o que parece simples nem sempre o é, sobretudo quando sentimos na pele a responsabilidade das falhas. Neste contexto a avaliação muda por completo de perspectiva e já não se fala de “gostei”, “não gostei”, “há que melhorar isto” e assistiu-se a uma série de reacções primárias do ser humano, de defesa (normalíssimas) mas, que foram vividas e manifestadas de modo muito maduro, ou não tivessem vocês alcançado um nível como grupo já bastante elevado.
Refiro-me ao facto de no momento de avaliação se ter evoluído de um: “gostei muito… de quase tudo”, passando por “foi a pior actividade do ano” e a “culpa foi da chuva”, até chegarmos ao momento de viragem quando tentámos afastar de nós a responsabilidade dos erros.
Como muito bem disse o André, “a actividade é o que nós fazemos dela” e reforçado pelas palavras de alguns de vocês – “é com os erros que se aprende” – foi com um orgulho pessoal, muito grande, que senti que todos (uns mais que outros) entenderam que, sejam quais forem os condicionalismos, haja chuva ou sol, ou qualquer outro elemento alheio à nossa vontade, a responsabilidade de uma preparação eficaz é sempre nossa (grupo), desde o momento do planeamento, à definição dos recursos humanos e materiais necessários, até ao minuto da passagem do papel ao acto e até na confirmação de tudo o que foi estipulado, arrumado e definido.
Neste sentido, numa actividade destas, tornam-se por demais evidentes as diferenças individuais, que creio, não passaram despercebidas a nenhum de vós. E aqui a avaliação já não é feita por nós, mas sim por cada um vós que sentiu a ajuda que teve dos outros, que viu as diferenças de trabalho e de empenho de uns e de outros… que tem consciência daquilo que fez e de como se envolve nas actividades e na vida escutista…
Para jovens inteligentes que são, creio que todos começaram a perceber as razões de cada um, e de si mesmo: as razões que vos levam a estar no escutismo, porque sim (simplesmente) ou porque o vivem e sentem como uma filosofia de vida… não há melhores ou piores, apenas mais ou menos coragem para enfrentar os riscos e a satisfação que uma vida de partilha e de serviço ao outro acarreta.
Porque há diferenças na opção, espontânea, de ficar em campo a arrumar as coisas de todos (vejam quem lavou a loiça, vejam quem sozinho levou metade dos troncos das construções, vejam quem desmontou as construções) ou executar uma actividade mais individual, igualmente importante e prazenteira… mas não para o grupo, para o outro!
E quando trabalhamos em comunhão, para o bem comum, conseguimos cumprir horários, respeitar compromissos… sentir o verdadeiro prazer de ser felizes!
Um abraço de respeito e admiração:
João Oliveira